Nutrição infantil: alimentação saudável nas colônias de férias

 

Para as crianças, as férias escolares representam um período de liberdade, longe dos horários e compromissos impostos pelo relógio. Mas o tempo livre e a falta de rotina não devem significar ausência de regras, principalmente quando o assunto é alimentação. 
Essa é uma preocupação que aflige os pais, já que nem sempre é possível estar junto aos pequenos durante o recesso. Por isso, as buscas por colônias de férias com acompanhamento nutricional vêm aumentando, e abrem caminhos para mais uma área de atuação profissional.

A nutricionista paranaense Flávia Monteiro, que atua no Centro de Educação Infantil (CEI) em Curitiba-PR (Escola Gaia), entende bem a importância do seu trabalho e considera que a educação nutricional pode e deve ser trabalhada em todos os ciclos da vida: “Tratando-se de crianças, o intuito é ampliar a formação de hábitos alimentares adequados, ou seja, educar essa faixa etária para escolhas mais saudáveis e nutritivas. O acompanhamento nutricional nas colônias de férias é imprescindível nesse sentido, e deve ser feito por um profissional capacitado, realizando desde a elaboração do cardápio, do preparo e distribuição dos alimentos até as atividades de educação nutricional”. 


Cardápios atraentes

Vale lembrar que, por se tratar de um período de descontração, a ideia não é impor uma alimentação restritiva às crianças. Por isso, os cardápios devem ser atrativos, saborosos e nutritivos ao mesmo tempo, respeitando a harmonia dos ingredientes (cor, aroma, textura, sabor e apresentação), as necessidades nutricionais para cada idade e a qualidade das preparações. Assim, é possível elaborar um cardápio delicioso com quantidades adequadas de sódio, açúcar simples e gorduras. 

Embora a colônia em que trabalha seja no próprio ambiente escolar, a nutricionista afirma que as crianças vivenciam experiências muito diferentes: sem as aulas convencionais, os alunos trocam as salas por atividades ao ar livre, gastando muita energia. Em função das brincadeiras e do aumento de gasto calórico, a melhora do apetite é perceptível, e muitas preparações do cardápio (comuns ao período letivo e à colônia de férias) apresentam uma melhor aceitabilidade por parte das crianças.

Além disso, a criança encontra-se nessa fase da vida em pleno crescimento e desenvolvimento físico e cognitivo. Por isso a alimentação deve ser balanceada tanto qualitativa quanto quantitativamente em relação à energia e nutrientes (carboidratos, proteínas, gorduras vitaminas e minerais). Vale ainda destacar o cuidado com a ingestão hídrica (água, sucos naturais e chás) para evitar a desidratação. Somente bem alimentada e hidratada a criança encontrará disposição suficiente para aproveitar integralmente a colônia de férias.

Resistência: como vencê-la?

Algumas crianças não acham muito interessante conversar sobre verduras e frutas ou sobre uma alimentação saudável. Uma avaliação individual e a abordagem correta sobre o assunto é o caminho certo. Deve-se considerar a idade, o sexo, o nível socioeconômico, a cultura e os hábitos da criança e de sua família. O acompanhamento das crianças por um profissional habilitado, no caso o nutricionista, é fundamental. Além de elaborar o cardápio, considerando todas as questões relatadas anteriormente, ele deve ter a capacidade de reconhecer e interpretar quais as dificuldades e as limitações da alimentação de cada criança, bem como os comportamentos de repulsa ou compulsão alimentar. 

Com essas informações, é possível desenvolver atividades interativas pelas quais as crianças se interessem. Portanto, se há resistência é porque a estratégia da abordagem não está adequada e deve ser modificada.


Atividades lúdicas
Brincar é indispensável para a saúde infantil, além de auxiliar na apreensão dos conhecimentos da vida. A melhor maneira de conquistar a atenção das crianças é por meio de jogos, brincadeiras e histórias. Com relação à educação nutricional, não é diferente: peças de teatro, jogos que envolvam os alimentos, charadas, entre outros, aguçam a curiosidade, estimulam a participação e desenvolvem os sentidos e o raciocínio das crianças. Flávia Monteiro sugere algumas atividades que costuma realizar. Confira as dicas:

Caça ao tesouro: seguir as pistas (que envolvem charadas) para encontrar frutas e chocolates, que serão os ingredientes para o preparo de um fondue.

Jogo dos sentidos: as crianças vendadas são desafiadas a descobrir os alimentos apresentados – normalmente frutas e verduras — por meio dos sentidos (olfato, paladar, tato e audição). Os jogos permitem a formação de equipes e geram uma competitividade saudável, o que estimula as crianças a participar das brincadeiras.

Oficinas culinárias (mestre-cuca): os pequenos adoram ajudar e ter liberdade de preparar bolos, bolachas, sucos, sorvetes nutritivos. Ótima oportunidade para explicar a origem dos alimentos e incentivar o consumo de preparações saudáveis e nutritivas.

 • Passeios externos: também são estratégias motivadoras. Existem chácaras e fazendas que trabalham com hortas, granjas e sistemas de ordenhas. As crianças gostam de estar em contato com a natureza e com os alimentos. Tornam-se mais motivadas para consumirem os alimentos que plantaram e colheram, bem como por descobrirem qual a sua real origem (não, os alimentos não brotam de prateleiras nos mercados!).


Acabou. E agora? 
A manutenção da alimentação balanceada só vai ser possível mediante o esforço dos pais. O exemplo sempre é a melhor lição, e deve começar já no mercado, com escolhas conscientes nas prateleiras. Se os pais ofertarem e consumirem em casa — e fora dela — uma alimentação saudável junto aos filhos, haverá uma maior probabilidade das crianças receberem essa conduta como um modelo de vida, ou seja, um hábito. 

A própria educação nutricional contribui na formação de hábitos alimentares saudáveis: “Já presenciamos relatos interessantes de pais, cujos filhos participaram de colônias de férias. Os pais contam entusiasmados sobre os filhos que agora pedem para comprar hortaliças e frutas no mercado ou sobre aqueles que anteriormente sempre recusavam a salada das refeições e agora passaram a aceitar”, revela Flávia.

É importante que os pais sugiram que haja um investimento na contratação/manutenção de um profissional da nutrição para dar continuidade ao trabalho realizado nas férias. Nos períodos letivos, o acompanhamento nutricional deverá incluir também a avaliação nutricional da criança (peso e estatura).

Além disso, os pais podem estimular as crianças a manter uma alimentação saudável como: auxiliar os pais no preparo dos alimentos em casa e realizar com frequência os passeios que trazem algum aprendizado relativo à alimentação.

 
Flávia Monteiro é nutricionista pela Universidade Federal do Paraná (2009). Pós-Graduação em Saúde da Família pela Universidade Gama Filho (2011) e mestre em Segurança Alimentar e Nutricional pela Universidade Federal do Paraná (2013). E-mail: flaviam.nutricao@gmail.com



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